Pode ser decepcionante e um prato cheio para os
pachecos de plantão, mas não foi nada surpreendente o péssimo resultado
no último mundial de atletismo disputado na Rússia. O Brasil apenas
repetiu os mesmos resultados alcançados nas edições de 1993, 2001, 2005 e
2009, saindo zerado de Moscou no quadro de medalhas. E se analisarmos a
performance brasileira em todos os mundiais disputados até hoje, de
acordo com estatísticas da organizadora do mundial, a Organização
Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), o país possui desde
1983 um total de 11 medalhas conquistadas, sendo 1 ouro, 5 pratas e 5
bronzes, atrás de Uganda, Moçambique, Equador, Trinidad e Tobago,
Bahamas, entre tantos outros. A quantidade de medalhas brasileiras na
história dos mundiais é menor do que as 12 medalhas obtidas pelo Quênia
apenas nesta última edição do evento. Olhando assim podemos concluir que
o Brasil é mesmo um país no segundo, ou terceiro, escalão do atletismo
mundial.
O erro bisonho na sincronia da passagem do bastão no revezamento
4x100m entre Franciela Krasucki e Vanda Gomes, custou uma medalha certa,
porém, outros resultados foram abaixo do esperado, Keila Costa no salto
feminino, Geisa Arcanjo no arremesso de peso, Bruno Lins nos 200m e
Fabiana Murer no salto com vara, tiveram performances bem abaixo das
suas melhores marcas. Isto sem mencionar que em provas tradicionais como
100m rasos e nas provas de fundo (1500m, 3000 com barreiras, 5000m e
10000m) o país nem sequer teve atletas inscritos. A meta da Confederação
Brasileira de Atletismo (CBAt) era a de chegar no maior número de
finais possíveis e nem este objetivo pode-se dizer que foi satisfatório.
O problema, percebe-se, é o mesmo que de tantas outras modalidades
esportivas no país, a falta de uma política esportiva por parte do
governo e instituições públicas é notório e afeta a todos, mas a falta
de uma gestão com foco no desenvolvimento de estruturas e na formação de
atletas por parte das diversas federações e confederações existentes no
Brasil e os longos reinados de dirigentes que se perpetuam, talvez com
interesses alheios que o desenvolvimento da modalidade, são também
problemas crônicos e tão comuns nas diversas modalidades. O atual
presidente da CBAt, José Antonio Fernandes, assumiu neste ano após quase
30 anos da gestão anterior de Roberto Gesta de Melo.
Para citar um outro exemplo, o Tênis brasileiro ilustra bem esta
incompetência, quando poderia ter sido aproveitado o surgimento de um
fato pontual e motivador no final dos anos 90, com o surgimento de
Gustavo Kuerten, que ganhou 3 títulos de Grand Slam e outros tantos
importantes, foi número um do mundo e entrou para a história do tênis
mundial, enquanto isso travava-se uma briga ferrenha pelo poder
envolvendo acusações e brigas judiciais entre o atual presidente da
Confederação Brasileira de Tênis e o seu antecessor, Guga aposentou e o
Tênis Brasileiro permaneceu no mesmo estágio de sempre.
Tanto a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) como a de Atletismo
(CBAt) não podem reclamar de falta de dinheiro, afinal, ambas possuem
receitas e verbas milionárias, no caso da CBAt, sua receita gira em
torno dos R$ 30 milhões entre patrocínio da Caixa, Lei Agnelo/Piva e
outras verbas.
A questão é que todo este dinheiro geralmente é direcionado para um
punhado de atletas considerados de elite e projetos específicos visando
resultados rápidos, em detrimento de uma melhor estruturação na base e
na formação de atletas para o futuro, é como querer construir uma casa
pelo telhado.
Enquanto o secretário de alto rendimento do ministério dos esportes,
Ricardo Leyser Gonçalves declarou que o atletismo brasileiro precisa se
"reinventar", é marcante na realidade do país a insuficiência e
precariedade de equipamentos públicos que promovam a prática de
esportes. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), das 160 mil escolas de ensino fundamental apenas 28%
possuem quadras esportivas e naquelas onde existem geralmente a prática
limita-se a futebol e vôlei. De alguma maneira isto reflete também na
pouca relação da juventude brasileira com a prática esportiva. Segundo
pesquisas encomendadas pela UNESCO, apenas 44% dos jovens brasileiros
praticam esportes e as razões apontadas são justamente a falta de
acesso, a falta de locais apropriados e a falta de condições materiais. A
prática esportiva deveria ser promovida fundalmentamente nas escolas,
de onde aqueles com interesses e habilidades específicas poderiam ser
direcionados e desenvolvidos em centro de treinamentos públicos e
gratuitos, mas que inexistem no país.
Sabe-se que no esporte a qualidade no alto rendimento é extraída da
quantidade, de um trabalho de base estruturado e massificado, como
construir uma casa pelos alicerces.
No caso das federações e confederações, mesmo com muitas delas
recebendo verbas milionárias, este trabalho de base no desenvolvimento
da estrutura física, que suporte a formação de novos e mais bem
preparados atletas, além da qualificação de professores e técnicos, é
também ignorado em detrimento de projetos que visam resultados imediatos
e o resultado deste erro estratégico de gestão é a dificuldade na
renovação de atletas, que via de regra atingem o nível competitivo mais
alto ainda com deficiências técnicas e sem poder desenvolver seu melhor
potencial, acabam sucumbindo diante de todas as expectativas depositadas
em suas costas.
A questão não é específica do atletismo, mas de todas as modalidades, olímpicas ou não.
Enquanto os dirigentes não fazem a lição de casa, nos aproximamos do
maior evento esportivo do planeta e que será sediado na país, Rio 2016
está chegando e a nossa realidade não será diferente do que tem sido ao
longo dos anos, será mais um prato cheio e tanto para os pachecos de
plantão.
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