Em São Paulo
Os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, marcaram a entrada do Brasil no cenário dos grandes eventos esportivos mundiais e deram largada no processo que terminou com a vitória verde-amarela na disputa pela Copa do Mundo de 2014 e pelos Jogos Olímpicos de 2016. No entanto, o Rio-2007, pelo menos para os mexicanos de Guadalajara-2011, virou exemplo de como não fazer um megaevento.
“Com a experiência que tivemos observando os Jogos do Rio, em que houve um incremento notável nos custos, Guadalajara desenvolveu sua infraestrutura Pan-americana e pretende que não haja aumentos importantes no planejado”, afirmou Luiz Alberto Fuentes, membro do Comitê Organizador do Pan-2011.
O que os mexicanos querem evitar são as denúncias de superfaturamento e o estouro de orçamento que marcaram os Jogos brasileiros. A previsão era gastar R$ 400 milhões. A cifra não parou de crescer até chegar em R$ 3,6 bilhões. Além disso, a participação da iniciativa privada foi praticamente nula, deixando todos os custos a cargo do governo.
Antecedência x superfaturamento
Como apontou o Tribunal de Contas da União (TCU), em documento relatado por Marcos Vinicius Villaça, “ao longo da preparação para os Jogos Pan-americanos (...) observou-se uma relutância dos envolvidos em cumprir compromissos assumidos anteriormente, o que levou o Governo Federal a intervir, elevando, de forma contínua, sua participação no rateio das despesas”.
Para Ricardo Leyser, secretário nacional de esporte de alto rendimento do Ministério do Esporte, “o Brasil tinha o objetivo de, fazendo o Pan, ganhar pontos na disputa olímpica”, tendo investido “o que julgava necessário para inserir-se no rol dos países capazes de sediar megaeventos, o que se mostrou acertado, com a vitória para os Jogos Olímpicos e os Jogos Paraolímpicos de 2016”.
Com a experiência que tivemos observando os Jogos do Rio, em que houve um incremento notável nos custos, Guadalajara desenvolveu sua infraestrutura Pan-americana e pretende que não haja aumentos importantes no planejado
Luiz Alberto Fuentes, Comitê Organizador do Pan-2011De acordo com Fuentes, o Comitê de Guadalajara tentou antecipar as certificações que liberaram obras para estádios e confederações, evitando que houvesse requisitos de complementação de verbas - um dos vilões do alto custo do Rio-2007. Além disso, foi implementada uma política de “nitidez no gasto público, com constantes auditorias e transparência no uso dos recursos”.
Leyser aponta alguns fatores como justificadores da variação entre orçamento previsto e final. “Com início da preparação do evento, verificou-se que o orçamento apresentado na candidatura não correspondia às necessidades de gastos de um evento internacional do porte dos Jogos, ainda que eles fossem feitos dentro dos padrões modestos de edições anteriores”, declarou o secretário, que defende que além de itens não previstos havia outros subestimados no plano inicial. O estádio previsto para atletismo tinha 10 mil lugares, por exemplo, e depois se converteu no Estádio João Halevange, o Engenhão, que tem capacidade de 45 mil lugares.
“A segurança foi outro item que, no dossiê, previa contratação de serviços privados para controle de acesso às instalações esportivas. Na reformulação, transformou-se em plano de segurança pública para a cidade e a região metropolitana do Rio”, defende Leyser.
Verbas públicas x dinheiro privado
Segundo o TCU, somente na construção da Vila Pan-Americana houve parceria do Estado com a iniciativa privada. No entanto, mesmo ela custou muito mais do que se esperava: “cada atleta ou membro de delegação esportiva que ficou hospedado na Vila Pan-americana custou ao Poder Público R$ 1.137,00 por dia”, diz o relatório.
Em Guadalajara, segundo relatório divulgado pelo governo de Jalisco, a expectativa é bem diferente. Do investimento total previsto de US$ 1,34 bilhão, US$ 947,5 milhões correspondem à iniciativa privada, com somente US$ 296,2 milhões de dinheiro público – a grande maioria de origem federal.
De acordo com Luiz Alberto Fuentes, “houve interesse do setor privado em aderir como sócio dos Jogos”, o que “toma relevância positiva toda vez que resultante da promoção do México como um país seguro e idôneo para realização de eventos internacionais”. “A iniciativa privada conjugou seu interesse com os da cidade sede. Empresários dos mais diferentes setores acompanharam os organizadores em mais de uma década de projeto”, afirma o mexicano.
Ricardo Leyser declara não ser possível comparar as duas situações. Segundo ele, o projeto do Rio 2007 era mais ambicioso, uma vez que se tinha no horizonte sediar também Copa do Mundo e Olimpíadas. "Cada país gasta o que julga importante para o seu projeto. Cada um define sua estratégia de acordo com suas ambições esportivas, econômicas, diplomáticas e turísticas, entre outros aspectos consideráveis no projeto de realização de um grande evento esportivo", aponta, cutucando também os dados apresentados pelos mexicanos: “Além disso, é necessário aguardar o término dos Jogos de Guadalajara para o balanço final dos gastos”.
Nem tudo são flores
No entanto, nem tudo são flores no processo de organização do Pan-2011, como Fuentes quer transparecer. O estádio onde serão disputadas as provas de atletismo, com capacidade prevista para 8500 espectadores, está com as obras atrasadas e preocupa. A construção estaria sendo feita em ritmo acelerado, mas o plano inicial que apontava para um estádio com 15 mil lugares já foi descartado.
No caso da Vila Pan-Americana, que terá capacidade para receber 6 mil pessoas, também há problemas. O complexo foi alvo de uma batalha legal, e em 4 de maio um tribunal municipal ordenou que as obras fossem interrompidas, alegando que haveria dano ao ecossistema da região.
No mesmo dia um recurso em nível federal permitiu o reinício dos trabalhos, mas este não foi o único entrave no projeto. A previsão inicial era construir a Vila no centro da cidade, próxima à maioria dos locais de competição, mas questões políticas e judiciais levaram as instalações para uma zona mais distante. Assim como o período de chuvas pelo qual passa Guadalajara, essa mudança também ocasionou atraso, e, caso a construção se conclua no atual prazo de dois meses, haverá apenas mais 60 dias para que toda a logística e a segurança da Vila sejam efetivadas.
Segundo declarações do governador de Jalisco, Emílio González Márquez, as obras estariam entre 90 e 95% concluídas. Já Antonio Lozano, presidente da Federação Mexicana de Atletismo, afirmou ao diário Record que apenas 40% das construções estariam prontas.
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