A possibilidade de ver a possível venda de Kaká por valores exorbitantes inflacionar o mercado de transferências abriu os olhos das autoridades esportivas mais uma vez e gerou protestos de Mohamed Al Fayed, proprietário do Fulham, também da Inglaterra. O combate a essa situação de "bola de neve" é uma das características do modelo de administração das ligas norte-americanas de ponta, em especial a NBA, a NFL e a MLB. Aqui, apresentamos a quarta e penúltima reportagem da série que o Terra publica nesta semana sobre a viabilidade financeira do futebol brasileiro: o modelo das ligas profissionais americanas e por que ele funciona.
A tradicional alta expectativa por resultados esportivos de ponta, por títulos e por grandes contratações norteiam o futebol e geram um movimento que, segundo especialistas, tornam esse esporte, salvo controles rígidos, uma atividade que financeiramente sempre será inviável. Ou seja, por mais que os clubes encontrem novas fontes de receita e aumentem seus faturamentos de forma contínua, sempre fecharão no vermelho porque o preços por jogadores aumentarão em proporções maiores.
"Se você analisar friamente, a tendência é essa mesmo: quanto mais fatura-se, mais gasta-se. Para evitar essa contradição, alguns controles poderiam ser feitos para que tivéssemos uma liga forte e uma troca de informações entre os clubes. Hoje, chegamos a casos extremos que causaram distorções", destaca Paulo Velasco, especializado em gestão esportiva e com passagem pela Juventus.
Imposição de limites
O controle sobre gastos com salários é rígido na NBA e na NFL. Por lá, a organização impõe um teto que impede o escalonamento da inflação sobre os investimentos e mantém a saúde financeira do negócio. Na liga de basquete, por exemplo, os clubes precisam de muita competência e planejamento para montar elencos fortes sem ultrapassar a casa dos U$ 71 milhões, limite imposto pela organização para a temporada 2008/09. Ultrapassar essas estimativas significa ter de pagar a mais em impostos para a própria liga, o que já é um mecanismo para impedir grandes disparidades, ainda que normalmente não se pague pela transferência de um jogador.
Os limites impostos pela organização da NBA exigem habilidade grande para as equipes na hora de planejar o ano. Um exemplo claro na atual temporada é o Dallas Mavericks, que gasta mais de U$ 90 milhões em salários por um elenco que dificilmente terá força para brigar pelo título. Apenas com Erick Dampier e Jason Kidd, os Mavs gastam um terço da folha, e ainda precisam pagar taxas para a liga por ultrapassar o teto previsto.
Outra franquia localizada no estado do Texas, o San Antonio Spurs, dá aula aos rivais. Para manter o elenco de Tim Duncan e Tony Parker, gastam US$ 25 milhões de dólares a menos e, ainda assim, venceram três dos últimos seis títulos da NBA. Tudo isso dentro de uma visão equilibrada de administração do campeonato como um todo.
"As ligas têm mão de ferro, são administradas como um negócio. Mas há diferenças: os direitos de televisão são coletivos e o último e o primeiro recebem o mesmo. Imagine o que seria se o Flamengo e o Ipatinga recebessem os mesmos valores", compara Amir Sommogi, da Casual Auditores, especializada em gestão esportiva. Em 2009, o Fla receberá R$ 21 milhões pela transmissão do Campeonato Brasileiro na televisão aberta - praticamente o dobro que arrecadará o Vitória, por exemplo.
O exemplo do beisebol
O beisebol da MLB, vale frisar, gira em torno de outra linha de raciocínio, em que a força do New York Yankees se faz presente e quebra qualquer tipo de controle da liga. Para manter um elenco estelar, a franquia NY Yankees gasta algo em torno de US$ 200 milhões em salários por temporada - o que já é quase metade das suas receitas.
"Os Yankees gastam, tem prejuízo, mas terão um estádio novo e crescerão muito. A perspectiva de faturamento anual aumentará em US$ 100 milhões. A conta é paga com a exploração do negócio", aponta Amir, indicando que com a casa nova, o clube de Nova York assumiu dívidas que vão se tornar receitas no futuro.
A mão de ferro das organizadores das ligas americanas, impondo tetos e outras restrições, não compromete o brilho dos esportes por lá. Muito pelo contrário, como mostram os números. Embora o futebol seja o esporte mais popular do mundo, apenas a Premier League - nome original do Campeonato Inglês - está entre as quatro ligas esportivas com o maior faturamento no mundo. Adivinhe quais são as outras três? MLB (Major League Baseball), NBA (National Basketball Association) e NFL (National Football League) - todas dos Estados Unidos.
E a NFL, aliás, com US$ 6,5 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões), arrecada perto do dobro que a primeira divisão do futebol inglês, que leva US$ 3,6 bilhões (R$ 8,3 bilhões). O que prova, numericamente, que os americanos estão à frente dos demais em negócio. "A grande diferença é que lá a administração não visa poder político, mas sim financeiro", destaca José Carlos Brunoro, especializado em marketing esportivo.
Parte de toda essa imensidão de lucros se deve ao inigualável poder de marketing dos esportes norte-americanos. Em tempos em que Corinthians e Palmeiras começam a se mobilizar para transformar um dos maiores clássicos do País em evento particular, séries como o Super Bowl e o All Star Game têm vida própria e geram uma infinidade de receitas que vão além dos campeonatos em que estão inseridos.
"Por lá, o marketing fala mais alto que a paixão e aqui é o contrário. Os clubes dos Estados Unidos não são ligados à paixão", compara Fernando Carvalho, vice-presidente de futebol do Internacional. O que não dizer que as ligas dos EUA não possam trazer lições ao Brasil.
Fonte: Terra.com (esportes) - Dassler Marques
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