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5 de mar. de 2009

Clubes investem em facilidades aos torcedores para garantir a tão sonhada receita antecipada

Ter o torcedor participando das atividades do clube e ao mesmo tempo garantir a renda das partidas de forma antecipada é o grande sonho da maioria dos clubes brasileiros. O público, por sua vez, quer comodidade e atenção do time que tanto gosta e acompanha. Para unir o útil ao agradável, as equipes de futebol começam a modernizar seus projetos de sócio-torcedor e criar ações para alavancar o número de participantes.

Os valores das mensalidades variam de R$ 20 a R$ 70, de acordo com as vantagens escolhidas. Na maioria dos planos o associado não precisa pagar pela entrada nos jogos em que seu time atuar como mandante, ganha brindes e revistas com informações da equipe, além de, em alguns, casos poder participar da vida política do clube, como na eleição para presidente.

O maior exemplo de sucesso no cenário brasileiro é o Internacional de Porto Alegre. Com 74 mil sócio-torcedores que pagam a mensalidade em dia e seis mil inadimplentes, o clube gaúcho é vice-campeão no quesito em toda a América Latina, ficando atrás apenas do River Plate, da Argentina, atualmente com 83,5 mil participantes. Já o time com maior número de fanáticos associados em todo o mundo é o Benfica, de Portugal, com 170,5 mil.

Para alavancar o número de participantes no ano de seu centenário, o Inter aposta suas fichas no slogan "100 anos, 100 mil sócios", utilizado desde a data do 99º aniversário, 4 de abril do ano passado. "Criamos uma série de ações de fidelização e relacionamento para aproximar o torcedor do clube, fazendo-o se associar ao programa Sócio Campeão do Mundo", conta o vice-presidente de marketing do Internacional, Jorge Avancini.

As ações foram divididas em três módulos. A primeira fase teve como objetivo atingir o lado emocional dos colorados (apelido dos torcedores do clube). Em seguida o Inter criou o Rio Grande Vermelho, projeto que incentiva torcedores de outras cidades gaúchas a fazer parte do projeto. Na atual fase, o Colorado incentiva o torcedor a indicar uma pessoa querida ao quadro de associados. A agência E21 atuou com o marketing do time de 2003 até 2008. Para este ano, a gaúcha Novacentro foi escolhida.

O estádio do Beira-Rio, casa do Inter, tem capacidade para 55 mil pessoas. Na final da Copa Nissan Sul-Americana de 2008, contra o Estudiantes da Argentina, a arena foi completamente tomada por sócio-torcedores que já haviam garantido seus ingressos. Avancini não teme a rejeição de torcedores comuns, que acabam ficando sem bilhetes nestas ocasiões. "O torcedor tem que aprender a mudar seu costume. Futebol é um espetáculo e é necessário garantir seu ingresso de forma antecipada. Aliás, quanto mais o quadro social do clube se fortalecer, o elenco será mais competitivo", destaca.

Com contribuição média de R$ 34,50 na soma de todos os planos de sócio-torcedor, o Internacional angaria cerca de R$ 2,7 milhões por mês e R$ 33 milhões por ano. "O projeto representa um quinto do orçamento do Inter, ficando atrás apenas dos direitos de TV. Depois vêm os valores de patrocínio, licenciamento e franquias, e uma eventual bilheteria com torcedores comuns", revela o dirigente.

Subindo na tabela
Atualmente na segunda divisão do Campeonato Brasileiro, o Ceará deu o pontapé inicial no seu programa de torcedor oficial há apenas um ano e meio e já conta com aproximadamente 7,5 mil participantes. Intitulado Sou Mais Ceará, o projeto desenvolvido pela Fã Clube, empresa especializada em relacionamento com torcedores, é anunciado em TVs, rádios e jornais do Estado.

"Estamos melhorando o projeto e aumentando os pontos de adesão", conta Fernandes Sousa, coordenador do programa. Segundo ele, o clube recebe cerca de R$ 110 mil mensais com o projeto. Até mesmo o presidente do Ceará, Evandro Sá Barreto Leitão, anuncia os benefícios do Sou Mais Ceará em um comercial de 30 segundos.

Para Sousa, a tendência é ter um número grande de torcedores que sempre apoiarão o clube. "Os que realmente são apaixonados pelo Ceará estão aderindo ao programa. Eles sabem que esta é a saída e que podem alavancar as finanças do clube", diz, ao adiantar que o objetivo do alvinegro é chegar a 20 mil torcedores oficiais.

Outro programa de sócio-torcedor que começa a despontar na tabela dos clubes brasileiros está no Planalto Central. O Nação Esmeraldina, do Goiás, surgiu em abril de 2007 e soma quatro mil sócios. Segundo a coordenadora de projetos para torcedores do clube, Úrsula Carvalho, os departamentos de marketing e de projetos para torcedor do alviverde investiram pesado no início do projeto.

Até o final do ano passado, o Nação Esmeraldina era anunciado na TV. Como o volume de adesões é considerado bom, panfletos e ações em grandes jogos são utilizados para divulgar o programa. "Quatro mil torcedores oficiais em uma cidade como Goiânia é um bom número. Mas nossa meta é chegar a 10 mil no final deste ano", admite Úrsula. "No início do programa a mensalidade estava cara. Agora ajustamos o valor e os torcedores estão começando a ver as vantagens. Pelos nossos cálculos, o associado pode chegar a economizar R$ 60 por mês", completa.

Visão de jogo
Desde 1999, o Atlético Paranaense vendia carnês com garantia de assentos nos jogos do clube para a temporada, mas nunca chegou a passar de três mil comercializados no ano. O time, no entanto, teve visão de jogo para perceber que era necessário criar um modelo sólido que atraísse o torcedor rubro-negro. Eis que, em 2007, surgiu o Sócio Furacão.

Com mudança de enfoque, o Atlético passou a valorizar não apenas as facilidades do ingresso antecipado, mas também possibilitar que o rubro-negro fanático viva o clube. Com ações promocionais como viagens com a delegação profissional, almoços e jantares com os jogadores, entre outras atividades, o time valorizou seu projeto de sócio-torcedor e agora conta com mais de 20 mil participantes.

"Os torcedores ficam loucos e até choram quando vivenciam o Atlético. Eles também têm orgulho de participar e votar na vida política do clube", afirma Mauro Holzmann, assessor de marketing do Atlético Paranaense, acrescentando que o colégio eleitoral do rubro-negro contou com mais de três mil pessoas na última eleição.

O Atlético anuncia o Sócio Furacão na TV, rádios, jornais, mobiliário urbano em Curitiba, além de utilizar atletas e ex-jogadores nas ações. Na sede do time, localizada na Arena da Baixada, há uma sala voltada ao atendimento dos associados. "O mais importante é a filosofia da valorização ao sócio-torcedor", frisa Holzmann.

Segundo ele, o Sócio Furacão representa 13% do faturamento do Atlético e fica atrás apenas do dinheiro oriundo de possíveis vendas de jogadores e dos direitos de televisão. "Com todas as dificuldades, os clubes começam a entender que a bilheteria pode salvar suas finanças. É a tão sonhada receita antecipada", afirma.

Times como Vasco da Gama, Ceará, Botafogo, Atlético Paranaense, entre outros, já chegaram a estampar seus projetos de sócio-torcedores no peito do uniforme de seus jogadores. Resta saber se o os clubes brasileiros continuarão a colocar em prática o modelo europeu de venda antecipada de ingressos nestes projetos, dando cartão vermelho aos tumultos nas bilheterias do País afora e garantindo uma significativa renda antecipada.

Fonte: André Lucena

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